Qual
foi o sinal (marca) que Deus colocou em Caim?
Resposta
(Fonte Bíblia Sagrada):
“Agora
maldito és tu desde a terra, que abriu a sua boca para da tua mão receber o
sangue de teu irmão. Quando lavrares a terra, não te dará mais a sua força;
fugitivo e vagabundo serás na terra. Então disse Caim ao Senhor: É maior a
minha punição do que a que eu possa suportar. Eis que hoje me lanças da
face da terra; também da tua presença ficarei escondido; serei fugitivo e
vagabundo na terra; e qualquer que me encontrar matar-me-á. O Senhor, porém,
lhe disse: Portanto quem matar a Caim, sete vezes sobre ele cairá a vingança.
E pôs o Senhor um sinal em Caim, para que não o ferisse quem quer que o
encontrasse.” (Gn 4:11-15)
Algumas pessoas entendem e afirmam que a marca
que Deus colocara em Caim foi a “marca de homicida”, e ainda dizem que todos os
assassinos são descendentes de Caim. Outras defendem que a marca foi “pintar” a
pele de Caim com a cor negra e afirmam que os negros são descendentes desse
personagem.
No primeiro caso, podemos apontar o grande
engano, haja vista que depois do dilúvio, todos os habitantes da terra eram
descendentes de Noé. Só a família de
Noé sobreviveu, e Noé não era descendente de Caim, e sim, de Sete. De pai para
filho: Adão foi pai de Sete, que foi pai de Enos, que foi pai
de Cainã, que foi pai de Maalael, que foi pai de Jarede, que foi pai de Enoque,
que foi pai de Matusalém, que foi pai de Lameque, que foi pai de Noé (não confundir o Lameque e o Enoque
filhos de Sete com o Lameque e o Enoque
filhos de Caim). Então, vimos que
Noé não era descendente de Caim, daí que, depois do dilúvio, não havia um
“descendentezinho” de Caim, nem “pra remédio”.
No segundo caso, podemos apontar o grande
engano simplesmente pelo primeiro caso: se não havia nenhum descendente de
Caim, os negros não podem ser “a marca de Caim”.
A Bíblia não nos dá, por si só,
instrumentos suficientes para identificarmos, por uma simples leitura, qual a
marca (sinal) que Deus pusera em Caim, e é aí que entra a interpretação do
texto, utilizando-se, para isso, o contexto, não só daquele momento, mas de
toda a Palavra.
Há que se conhecer o caráter do personagem, as
circunstâncias dos acontecimentos e os atributos
morais de Deus para que possamos nos “transportar” para aquele momento.
A Bíblia não nos traz riquezas de detalhes
quando os fatos não são relevantes, daí, vemos que Gênesis, 4:1
narra o nascimento de Caim; no versículo seguinte o nascimento de Abel e no
mesmo versículo 2 já vem citando a profissão/ocupação de cada um (ou seja,
adultos). Não sabemos se quando crianças tiveram sarampo, rubéola, catapora, ou
gripe; não sabemos do que brincavam, o quanto brigavam (coisas comuns entre
irmãos), ou mesmo se os dois se davam bem.
Não sabemos, também, que idade eles tinham
quando aconteceu a tragédia de um irmão matar o outro, mas, sabemos, em leitura
geral da Bíblia, que os personagens daquela época viviam quase mil anos, (Adão
930 anos; Sete 912; Enos 905, etc.) daí deduzirmos que a terra já estava,
inclusive, habitada por vários seres humanos, todos provenientes da mesma
família (Adão e Eva), do mesmo sangue (pois do contrário não havia como se
multiplicarem), já que a preocupação de Caim, ao receber o castigo, era a de ser
morto por alguém.
Note-se que, se houvesse ali apenas Adão,
Eva e o filho Caim – pois Abel já havia sido assassinado – quem poderia matar
Caim, caso o encontrasse? Não havia ainda a lei, e sem a lei não havia
casamento – propriamente dito – e menos ainda a proibição de relações sexuais
entre irmãos, primos, etc. O ser humano era apenas homem e mulher. Depois, com
Moisés, é que surgiram as leis sociais, morais e criminais – de onde se
originaram os códigos civis e penais existentes na maior parte do mundo.
Esclarecidos esses pontos, temos
então:
O
caráter do personagem: Não
precisamos nos transportar para o início de tudo para termos ciência de que desde
que o mundo é mundo, e o ser humano ser humano, o filho mais velho sempre – ou
quase sempre – tem ciúmes do filho mais novo. Caim era o mais velho e, como a
maioria dos filhos mais velhos, era
ciumento. Caim tinha ciúmes de Abel.
Com certeza, ao ver sua mãe dar mais atenção ao irmãozinho, desde a infância, Caim
se encheu de ira. Vai ver até que já havia pensado em “afogar Abel na
banheira”.
Como filho mais velho, Caim precisou pegar
mais no pesado e ajudar seu pai a lavrar a terra para o sustento da família.
Trabalho árduo, pesado mesmo, de sol a sol. Abel já ficava mais no “bem-bom”,
pois para pastorear não é necessário pegar peso, não é necessário ficar no sol
– a partir do momento que as ovelhas estão pastando, bebendo água, o pastor
pode descansar na sombra, “ler um gibi” e até tirar um cochilinho.
As
circunstâncias do acontecimento: Caim já estava “fulo” da vida. Trabalhava feito escravo, não
tinha tempo para descanso. Olhava torto para Abel (que não se sabe se era um
“santinho” ou se ficava, como todo irmão protegido, fazendo caretices e
deboches para irritar o irmão – se fosse hoje, com certeza, Caim encontraria um
Abel debochado e cantando para ele o tema da escrava Isaura). “Esse cara” –
diria Caim – “está se achando, ele vai ver só”.
Como se não bastasse, no momento de ofertar
ao Senhor, ao Todo-Poderoso, Abel se saíra melhor.
A Bíblia também não nos mostra o que havia
de errado na oferta de Caim, mas, trazendo para os dias atuais, podemos criar
algumas circunstâncias “parecidas” e até tecer algumas considerações e/ou
especulações do que pode ter ocorrido naquela época.
Vejamos: Temos um personagem dono de um
açougue e outro personagem dono de uma floricultura. Os dois, convidados a um
evento, deveriam levar um presente/oferta ao anfitrião.
Pois bem, o dono da floricultura, que
estava ansioso pelo encontro, que contava nos dedos os dias que faltavam para
estar ali, já com antecedência elabora um arranjo de flores maravilhoso, embala
em celofane colorido, finaliza com um fantástico laço de fitas. Ainda, para que
o anfitrião se agrade mais, escreve um cartão em papel especial, com letras
próprias de um calígrafo.
Já o dono do açougue, por motivos que não
nos cabe especular, quando se lembrou do evento e de que precisaria levar um
presente/oferta, de seu estabelecimento, já estava em cima da hora. Não dava
mais tempo de pensar em nada especial, mas era obrigatório estar no evento,
como era obrigatório levar algo. Precisava cumprir o compromisso. Ele olha no
freezer, na vitrine. O que estava mais fácil era um pouco de asinhas de frango.
Ele pega um saco plástico, põe as asinhas ali, dá um nó, coloca numa sacolinha
de plástico e leva.
Não há necessidade de muita inteligência
para saber qual o presente agradara mais ao anfitrião. E nem é preciso que o
anfitrião diga qualquer coisa. Só pela reação ao receber o presente, o dono do
açougue nota que “pagou mico” e sente vontade de “trucidar” o dono da floricultura.
Podemos, nesse contexto, confrontar o que
aconteceu em Marcos 12:41-44 e Lucas 21:1-4. Os ricos “enfiavam a mão no
bolso”, pegavam moedas à vontade – sem amor, sem compromisso, sem o cuidado de
agradar – e depositavam no gazofilácio. A viúva, no entanto, por amor, por
cuidado, por querer agradar e dar o
melhor, depositara as únicas moedas que tinha. Jesus, claro, se agradou da
oferta dela, que era dada de coração.
Então, de acordo com as circunstâncias do acontecimento,
podemos concluir que Deus se agradou da oferta de Abel não por ser a melhor e
mais cara, mas pelo cuidado, pela preocupação em agradar, pela deferência com
que fora tratado por Abel. E nessa circunstância, Caim sentiu vontade de “beber
o sangue” de Abel – quase que literalmente.
Os
atributos morais de Deus: Deus
é bom, é amor, é misericordioso; Deus é compassivo, é longânime, é paciente e
lento em irar-se; Deus é verdade, é fiel, é justo.
Por ser bom, Deus cuida até dos ímpios (Mt 5:45; At 14:17). Deus é bom,
principalmente para os que o invocam em
verdade (Sl 145:18-20). O versículo 19 diz que Deus ouvirá o clamor dos
que o temem e os salvará.
Caim
invocou o Senhor, com o
coração aberto, verdadeiro, reconhecendo a grandeza do Criador, isso suscitou a
misericórdia do Senhor e Deus, em sua misericórdia que dura para sempre, o
salvou de morrer assassinado.
Por ser misericordioso, Deus não nos trata segundo os nossos pecados (Sl
23:10). Por sua misericórdia, Deus perdoa os nossos pecados se confessarmos, se
nos arrependermos. Caim, naquele
momento, estava prostrado diante do Pai. A autoridade máxima o sentenciava;
ninguém havia que poderia salvá-lo.
Caim
soube pedir, soube orar. O
poder da oração é incontestável. E Deus ouviu sua oração, seu pedido, seu
clamor.
Por ser compassivo – ter compaixão, sentir tristeza pelo sofrimento dos
outros – Deus sentiu desejo de ajudar Caim, embora não pudesse – pela sua
própria palavra – retirar a punição. O perdão
vem, mas as consequências pelos erros também. Deus perdoou Caim, por isso, ainda que tivessem restado
descendentes dele depois do dilúvio, seria incoerente Deus “punir” tais
descendentes.
Por ser fiel à sua própria palavra, Deus manteve o castigo infligido a Caim.
Ele seria um “pobre-coitado”, um desgraçado – desprovido da graça de Deus – e andaria
errante pela terra, mas Caim podia contar com a longanimidade do Senhor.
Por ser longânime – generoso – Deus reconsiderou
sua decisão e, atendendo ao clamor sincero do pecador, atenuou a pena e Caim recebeu a proteção divina para não ser
assassinado.
A
marca em Caim: Devemos
partir do princípio de que Deus é mais simples do que imaginamos. A
hermenêutica nos leva a concluir que essa marca era a marca da promessa. Promessa feita a Caim de que ele não seria
assassinado. Não era uma marca visível, como visível não é a marca da promessa
que o Cordeiro nos deu com o seu sangue, a marca da salvação, da vida eterna.
Deus não é homem para se arrepender, mas é Deus para reconsiderar, como reconsiderou sua decisão inúmeras
vezes (vemos isso na Bíblia em várias ocasiões, como por exemplo, no tempo de
vida de Ezequias – Is 38:1-5).
Caim pecou feio. Deus o sentenciou com o
castigo de “sair de diante de sua face e andar errante pela terra”.
Imediatamente Caim, na humildade de sua
insignificância diante de Deus, argumentou no sentido de “Tenha misericórdia, Senhor!” Misericórdia é um favor imerecido. Não
merecemos, mas Deus, por ser amor e misericórdia, nos concede. Então, Caim,
reconhecendo sua fragilidade, sua insignificância diante do Todo-Poderoso, [ajoelha-se],
podemos crer pela fé e pela posição de arrependimento de Caim, e diz: “Senhor, este castigo é demais para mim, eu
não poderei suportar. Além de me mandar sair de diante de sua face, o Senhor
ainda me faz andar errante pela terra... Deus, sem sua proteção, qualquer
pessoa que se encontrar comigo me matará. Não
posso sobreviver à Sua ira...”
Então, Deus, que é amor e misericórdia, reconsiderou. Não retirou o castigo,
pois palavra de Deus, palavra de Fogo, palavra de Majestade não volta atrás,
mas reconsiderou. “Tudo bem, Caim, não
posso retirar o castigo, mas vou lhe colocar um sinal (marca) e qualquer que o
matar terá seu sangue vingado em sete pessoas de sua família” (em outras
traduções, sete gerações, em outras, ainda, será vingado sete vezes). E pôs a
marca. Não era uma marca visível, como visível não é a marca da promessa do
Cordeiro, repito. Era uma marca de proteção que impedia qualquer pessoa
de assassinar Caim.
Fazendo uso da linguagem dos espíritas,
podemos dizer, para que se entenda melhor, que “Caim tinha o corpo fechado”
por Deus. Ou seja, ele poderia morrer de doença, poderia até morrer de fome, “morrer
de susto”, “morrer de rir”, “morrer de soluço”, “morrer de raiva”, mas não
morreria assassinado. Sim, é simples, como Deus é simples.
Mais tarde, sete gerações depois (a contar
de Adão: Adão, Caim, Enoque, Irade, Meujael, Metusael, Lameque), Lameque comete
o mesmo crime: mata por motivo fútil
um jovem – apenas porque o jovem deu-lhe uma pancada – e imediatamente
declarou, já que havia uma jurisprudência
criada (Deus havia aberto um precedente
ao proteger Caim mesmo depois do crime): “Ouvi
minha voz, ó esposas de Lameque; Dai ouvidos à minha declaração: matei um homem
por contundir-me, sim, um jovem por dar-me uma pancada. Se Caim há de ser
vingado sete vezes, então Lameque setenta vezes e sete.”
Por falar nisso, Lameque viveu 777 anos: 7 de Caim mais 77 declarado
por ele e que, colocados lado a lado, resulta no número 777.
Podemos confrontar com PERDOAR 70 vezes e sete
(Mt 18:22).
Se toda ação provoca/atrai uma reação (3º Lei
de Newton), se quando Deus cria algo, imediatamente estabelece o seu contrário [cf.
“O Alerta Final”, palestra do pastor Wander Santos – (31) 8874-1719], ao criar
a jurisprudência divina de VINGANÇA
setenta vezes e sete, imediatamente estabeleceu o contrário: PERDÃO setenta vezes e sete.
O original hebraico traz 70 vezes e sete, o que daria setenta e
sete. Outras traduções dizem setenta
vezes sete, o que alguns traduzem como 490 vezes. Porém, devemos nos
lembrar de que na numerologia o número
sete, além de significar sagrado, perfeito e poderoso, traduz “infinitude”,
infinidade (infinitamente). Daí, se em vez de multiplicarmos setenta vezes sete
colocarmos o número sete várias vezes, lado a lado, até completar 70 vezes
(777777777777777...), estaremos diante de um número impossível de ser lido,
daí, teremos a resposta de Cristo: Devemos perdoar sempre, INFINITAMENTE.
Nilma Lima
Belo Horizonte (31)8386-1717
Escritora e Jornalista
Professora de Hermenêutica Bíblica e
Bibliologia.
nilmarialima@yahoo.com.br